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Mundo do Trabalho

Os empregos mais ameaçados pela Inteligência Artificial são os mesmos que costumam ser inicialmente ocupados pelos que se formam no Ensino Superior

Luciano Sathler
Luciano Sathler 11 de dezembro de 2024

As empresas já estão promovendo cortes de vagas dos empregos em início de carreira nos escritórios, em setores como direito, consultoria, mídia, marketing, tecnologia e indústria criativa.

A pesquisadora Molly Kinder, daBrookings Institution, liderou um amplo estudo* focado no mercado de trabalho dos EUA e verificou a tendência de que as tarefas envolvidas em empregos de conhecimento de nível básico são muito mais fáceis de automatizar do que aquelas feitas por seus supervisores.

A autora demonstra, por exemplo, que a porcentagem de tarefas com alto risco de automação é cinco vezes maior para um analista de pesquisa de mercado (53%) do que para um gerente de marketing (9%), três vezes maior para um representante de vendas (67%) em comparação com um gerente de vendas (21%) e mais que o dobro para um designer gráfico (50%) do que para um diretor de arte (24%).

Em toda a economia de colarinho branco (os escritórios), empregos de nível básico estão subitamente vulneráveis à automação porque envolvem atribuições de baixo risco do tipo em que a IA generativa é melhor.

Uma matéria** naBloomberg, que repercutiu o estudo, destaca:

"Considere o campo jurídico. O direito está entre os setores mais expostos às capacidades da IA generativa devido à sua orientação para a linguagem. Tradicionalmente, os primeiros anos da carreira de um advogado recém formado são gastos trabalhando sob a tutela de advogados mais experientes e envolvidos em tarefas de rotina — missivas como “revisão de documentos”, pesquisa básica, elaboração de comunicações com clientes, tomada de notas e preparação de resumos e outros documentos legais. Os avanços em softwares jurídicos com tecnologia de IA têm o potencial de criar vastas eficiências nessas tarefas, permitindo sua conclusão em uma fração do tempo — e uma fração das horas faturáveis — que historicamente levou advogados juniores e paralegais para concluí-las.

Em contraste, as ferramentas de IA ainda não podem substituir o toque humano de trabalhos jurídicos mais avançados, com maior complexidade e riscos maiores. Advogados novatos recém-saídos da faculdade de direito podem inicialmente não ter a experiência necessária para executar efetivamente essas tarefas de nível superior, como aconselhar clientes, elaborar um argumento, definir estratégias ou fazer apresentações em tribunal.

Advogados em início de carreira avançam por meio de um “aprendizado” de aprendizado no trabalho e acompanhando advogados mais experientes. Em troca, eles fazem o trabalho braçal. Se o trabalho braçal jurídico pode ser feito por IA a uma fração do custo, essa troca não é mais necessária."

Ainda é muito cedo para saber com certeza como a IA afetará os trabalhadores em início de carreira. Um punhado de experimentos recentes descobriu que os trabalhadores menos experientes e de menor desempenho se beneficiaram mais dos assistentes de IA — embora alguns desses estudos tenham envolvido simulações, não trabalho na vida real. É possível, com base nesses resultados, que a IA ajude os trabalhadores iniciantes a melhorar seu desempenho.

Eu já havia destacado esse fato em recente artigo publicado pelo Portal UOL, em 10/09/2024: Igualdade Artificial, um risco para a educação. Na ocasião, eu perguntava "O que acontece quando a maioria faz uso de uma IA para realizar suas atividades laborais? E, no caso dos estudantes, quando os trabalhos passam a ser produzidos com o apoio de uma IA generativa?

As instituições educacionais vão precisar focar no desenvolvimento de competências interativas não rotineiras, levando-se em consideração a classificação apresentada pelo IPEA em seu recente estudo sobre a realidade brasileira.

*Generative AI, the American worker, and the future of work, publicado em 10/10/2024.

**How AI Could Break the Career Ladder, publicado em 15/11/2024.

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